domingo, 5 de outubro de 2014

A CULTURA SEM RECURSOS

A cultura em Curitiba anda de mal a pior, e os anos de 2013 e 2014 foi um período de insegurança e más notícias para muitos artistas.

A tradicional Escola de Música e Belas Artes do Paraná - EMBAP, carinhosamente chamada de "Belas" por seus muitos alunos, berço de formação dos músicos eruditos e artistas plásticos do Paraná, continuou precariamente instalada em prédios alugados, sem que um único tijolo fosse movimentado na tão prometida "reforma" do prédio antigo, que permanece fechado e abandonado em seu endereço central.

O Teatro Guaíra, que já foi o maior teatro da América do Sul, com produções próprias de ópera, concertos e ballet, por pouco não se encontra entregue às traças, esquecido da população, Nas poucas vezes em que alguém ainda se lembra dele, ou de seu passado histórico e orgulhoso, a desculpa oficial é sempre a mesma, a "falta de verbas".

A Fundação Cultural de Curitiba, último bastião confiável de uma produção artística local com qualidade e continuidade, também dá mostras de suas dificuldades. O motivo alegado, sempre o mesmo, a "falta de verbas".

Para os artistas paranaenses, é um quadro assustador. A cidade não possui tradição na iniciativa privada para abarcar novas produções, e não há respaldo suficiente nas políticas públicas. Como artista, não poderia completar este blog, sem pelo menos uma postagem registrando o momento histórico em que este blog foi concebido.



Por isso, selecionei  para transcrição e registro neste blog, cinco matérias publicadas no JORNAL GAZETA DO POVO, que retrataram momentos significativos e a regressão imposta à produção artística local, publicados respectivamente em 07/04/2013, no Caderno G., (sobre o Teatro Guaíra), em 08/05/2013, no Caderno G.(EMBAP), em 13/05/2014, caderno Políticas Públicas. (MECENATO FCC), em 17/09/2013, no Caderno G. (redução da Oficina de Música) e em 01/outubro/2014, na coluna de Luiz Cláudio Oliveira. (risco de paralisação dos grupos de música estáveis da FCC).




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JORNAL GAZETA DO POVO, publicado em 07/04/2013, no Caderno G.
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Antônio More/Gazeta do Povo
Antônio More/Gazeta do Povo / Para conseguir retomar projetos ousados feitos no passado, o Guaíra necessita pelo menos do dobro de dinheiro que recebe hoje do estadoPara conseguir retomar projetos ousados feitos no passado, o Guaíra necessita pelo menos do dobro de dinheiro que recebe hoje do estado
POLÍTICAS PÚBLICAS

Protagonista em crise

Ícone do Paraná, Teatro Guaíra sofre com falta de verbas e necessita de um novo modelo de gestão para solucionar problemas
07/04/2013 | 00:01 | 
A maior parte da produção cultural brasileira que merece ser vista sobre um palco, os paranaenses viram no Guaíra. A preparação de bailarinos, de atores e de músicos do estado, passa pelo Guaíra. A formação de plateia para a música clássica e para a ópera sempre dependeu do Guaíra. O espaço cultural mais importante e tradicional do estado está às vésperas de celebrar algumas datas importantes: em 2014 se verá os aniversários de 130 anos do Theatro São Teodoro, embrião do espaço atual; 60 anos do Guairinha (Auditório Salvador de Ferrante) e 40 anos do Guairão (Auditório Bento Munhoz da Rocha Netto). O Guaíra já teve dias melhores, mas continua sendo fundamental para o Paraná. Por isso, a Gazeta do Povo publica a partir de hoje e ao longo do ano reportagens sobre a realidade atual, os problemas, a rica história e os projetos deste espaço público tão especial. Viva o Guaíra.
Quem sobe ao palco do Teatro Guaíra mesmo com as mais de 2.100 cadeiras vazias se emociona com o local, respeitado e adorado por quem lá trabalha e tem o privilégio de atravessar, todos os dias, o imenso palco de 54 metros de largura para iniciar o expediente. Responsável por montagens que marcaram época, como O Grande Circo Místico, de 1983, uma das mais conhecidas coreografias do balé do teatro, que teve músicas especialmente compostas na ocasião por Edu Lobo e Chico Buarque, além de peças como Galileu Galilei, de 1989, com Paulo Autran, o centro cultural passa hoje por uma situação delicada.
Depoimentos
“Meu momento inesquecível foi quando conheci a ‘cozinha’ do Teatro Guaíra. Foi no início da década de 1970, quando estreei como cenógrafo. Convidado para fazer o cenário da peça Angelita, Acabe Logo com Isso Antes Que Se Acabe, de Rogério Bonilha, passei uma semana trabalhando na marcenaria, lá no fundo do Guairinha. Nas artes cênicas, se diz que o autor precisa entender de “carpintaria teatral” para escrever uma boa peça de teatro. Naqueles dias e noites aprendi um pouco, muito pouco, da carpintaria do teatro. Graças a uma equipe de marceneiros que marcaram época em nossos palcos: Panhe, o mestre carpinteiro, Jorge de Lima, Antônio Perevalo, Chapula, Antônio Zampier e Irineu Adami, entre outros bravos maquinistas.”
Dante Mendonça, escritor, autor de livros como Maria Batalhão, Memórias Póstumas de uma Cafetina, jornalista e colunista da Gazeta do Povo.
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“Apresentar-se no Guaíra é sempre estimulante: remete-me a momentos mágicos. A estreia da Sinfônica Estadual na Sala São Paulo, da qual tive a honra de ser solista, repercute até hoje. Esse símbolo da cultura paranaense, que no passado foi referência nacional, bem que poderia revitalizar suas instalações e investir em seus corpos artísticos. Como fã incondicional, torço para que as autoridades competentes entendam essa necessidade. É só uma questão de decisão. A conhecida frase de Friedrich Nietzsche – ‘torna-te aquilo que és’ – aplica-se integralmente.”
Alvaro Siviero, pianista, solista de várias orquestras, como as Filarmônicas de Londres, Budapeste, Praga e Montreal, além da Orquestra Sinfônica do Paraná.
Entre os principais problemas está a falta de recursos, o que dificulta a retomada dessas grandes produções do passado. Hoje, o espaço, que é uma autarquia, recebe do governo do estado, segundo a diretora presidente Monica Rischbieter, R$ 1 milhão para fazer toda a programação cultural do Balé Guaíra, Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) e a G2 Cia. de Dança.
Outros R$ 500 mil (que podem atingir R$ 1 milhão) são fontes próprias do teatro, como a bilheteria e o aluguel para shows e formaturas. Em outras épocas, o orçamento já foi mais generoso: em 2006 era de R$ 4 milhões, mas, naquele mesmo ano, parte do dinheiro foi redirecionado para a construção de bibliotecas cidadãs. O aceitável hoje, comenta Mônica, seria um repasse de R$ 2,5 milhões (fora a arrecadação própria). “Não seria o ideal, mas daria para fazer muito mais bagunça e festa.”
Caso o desejo se torne realidade, há projetos elaborados por Mônica e pela diretora artística Mara Moron, além da intenção de retomar ações como o Teatro de Comédia do Paraná, montagens próprias (a última foi em 2000, quando Felipe Hirsch dirigiu Os Incendiários) e o Comboio Cultural, com ônibus que levavam apresentações da OSP e do Balé para o interior. “A gente tem um centro cultural com condições para montar o que quiser. Mas as coisas param quando para o dinheiro”, frisa a diretora presidente.
Burocracia
Por ser autarquia e ter de se submeter a todas as exigências de qualquer outro órgão público, alguns processos acabam engessados, o que vai contra a dinâmica da área cultural, que requer mais agilidade. Além da falta de funcionários (em 1992 eram 494, hoje, são cerca de 180), que não foram repostos em novos concursos públicos – algo fora de cogitação por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal, que determina que o Executivo comprometa no máximo 49% da receita líquida corrente com gastos de pessoal; o Paraná está no teto máximo –, os espetáculos precisam seguir o que exige a lei de licitações. “O balé da escola fez uma apresentação com as crianças, e elas tinham uma tiara de joaninhas. Na 25 de Março [rua de comércio popular em São Paulo] custa R$ 1,50. Mas não podemos ir lá e comprar, temos de licitar e a empresa precisa ter todas as certidões negativas exigidas. A gente acabou pagando R$ 22 cada tiara”, conta Mônica. Hospedar a OSP em cidades do interior é outra tarefa árdua, porque somente algumas cidades têm hotéis com a documentação exigida. “Aí, os músicos precisam ficar em Londrina, por exemplo, e fazer a região, viajando e voltando todos os dias”, diz Mara Moron.
Uma das saídas é a gestão feita por Organizações Sociais (OSs), associações privadas sem fins lucrativos que firmam um contrato de gestão com o governo do estado. Com isso, há flexibilidade maior na contratação (por CLT), facilidade para captação de recursos via Lei Rouanet e menos burocracia. A intenção, segundo o secretário de Cultura Paulino Viapiana é que Balé e Orquestra sejam geridos por OS (um edital para qualificar entidades como OS está aberto pela secretaria). “Não pretendemos terceirizar o Guaíra, ele continuará com as mesmas atribuições. É um equipamento público e assim deve permanecer. Nossa intenção é fazer contratos de gestão para administrar os corpos estáveis.”
Modelo
A administração por OS na área cultural é mais moderna, salienta a coordenadora de extensão cultural da Escola São Paulo de Teatro, Lúcia Camargo. Ela já foi conselheira e diretora do Teatro Guaíra, secretária estadual da cultura do Paraná e diretora artística do Theatro Municipal de São Paulo. “Com OS você tem mais condições de fazer parcerias, conseguir recursos e até contratar músicos de outro país.” Porém, a OS, segundo ela, só é válida quando há programação própria sólida. “Tem de tomar cuidado para que o Guaíra não vire uma casa de aluguel, precisa de equilíbrio.”
Colaborou Rafael Rodrigues Costa

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JORNAL GAZETA DO POVO, publicado em 08/05/2013, no Caderno G.
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Marcelo Andrade/Gazeta do Povo
Marcelo Andrade/Gazeta do Povo / Sede na Rua Benjamin Constant: custos crescentes com aluguel
Sede na Rua Benjamin Constant: custos crescentes com aluguel
EDUCAÇÃO

Mutirão pela Belas

Principal escola de formação de artistas do estado continua dividida em três diferentes sedes, com aluguel que ultrapassa os R$ 100 mil
Publicado em 06/05/2013 | 
Há um ano, quando assumiu a direção da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (Embap), Maria José Justino tomou para si a missão de unificar a sede da escola, que se divide atualmente em três prédios no centro da cidade (nas ruas Comendador Macedo, Benjamim Constant e Francisco Torres).
Fora a descaracterização gerada por essa divisão, a Belas, que tem egressos como o artista João Turin e a cantora lírica Neyde Thomas, gasta por mês R$ 104 mil de aluguel nos imóveis (incluindo gastos com segurança).

Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo / A diretora, Maria José: missão assumida de reunir Embap em uma única sedeAmpliar imagem
A diretora, Maria José: missão assumida de reunir Embap em uma única sede
R$ 104 mil
É o valor gasto por mês, hoje, no aluguel e no serviço de segurança dos três prédios que abrigam a Embap.
Dê sua opinião
A Embap faz ou já fez parte de sua trajetória? Conte sua experiência para nós.
As cartas selecionadas serão publicadas na Coluna do Leitor.
Além disso, proprietários de dois dos três prédios já pediram a desocupação dos imóveis. Por ser uma escola, não há risco de despejo, mas o pedido, somado aos gastos e outros problemas de infraestrutura (como um elevador quebrado no prédio da Comendador Macedo e a estrutura elétrica precária na Francisco Torres, o que já gerou, inclusive, um princípio de incêndio no auditório) são sinais mais do que claros de que a Embap precisa de uma nova casa.
Maria José, que realiza hoje um verdadeiro mutirão pela escola, conta que há conversas avançadas e projetos, mas que a coisa caminha “a passo de tartaruga.” “Gostaria que fosse mais rápido, mas estamos em uma articulação grande. As forças estão se unindo.”
Apoio
Segundo a diretora, o vice-governador Flávio Arns está convencido da importância da sede, e há também conversas com a Fundação Cultural de Curitiba. “A prefeitura tem espaços dentro da cidade para abrigar a escola. Poderíamos, em um acerto entre o estado e a prefeitura, resolver de fato a sede e, simultaneamente, criar atividades de extensão para a cidade.” Maria José salienta ainda que a Embap é uma das poucas escolas do Brasil cujo foco de formação é na performance do artista. “Se fizer um levantamento dos egressos [de música], verá que eles estão pelo mundo dirigindo orquestras. Por isso, precisamos ter pessoas do governo com sensibilidade para perceber a importância que essa escola tem.”
A falta de sede única dificulta a arrecadação de verbas para investimentos em infraestrutura, por meio de convênios com instituições como a Universidade Estadual do Paraná (Unespar), pois não existe possibilidade de fazer investimentos em prédios locados. “Quando a verba permite, utilizamos o dinheiro na aquisição de equipamentos. Senão, simplesmente ficamos de fora”, diz a diretora.
Configuração
A Embap tem projetos prontos para uma sede nova desde os mandatos do governador Ney Braga (1961-1965 e 1979-1982). Maria José levantou pelo menos quatro estudos finalizados, entre eles, um na rua Emiliano Perneta, que seria, a princípio, o local escolhido (e que já abrigou a Embap).“O prédio acomodaria apertado o que existe hoje, por isso, apontamos para a ideia de um outro lugar, e que o imóvel se transforme um espaço cultural voltado para a cidade.”
Há propostas de terrenos e barracões de particulares, que deveriam ser adaptados e adquiridos. “Fizemos um levantamento dos prédios do estado e, pelo menos até o momento, não descobrimos nenhum que tivesse condições de abarcar a escola, pois são pequenos. A construção de um novo espaço demandaria muito tempo, e estamos apurados”, frisa a diretora. A ideia, assim que o local for definido, é adaptar os projetos prontos. “Nós criamos uma comissão da sede que está fazendo as adaptações. Essas conversas são uma luz no túnel. Espero que a gente consiga com rapidez uma solução.”


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JORNAL GAZETA DO POVO, publicado em 13/05/2014, caderno Políticas Públicas.
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Hugo Harada/Gazeta do Povo
Hugo Harada/Gazeta do Povo  / O cineasta Paulo Biscaia Filho: “apagão cultural”O cineasta Paulo Biscaia Filho: “apagão cultural”
POLÍTICAS PÚBLICAS

Recursos de 2014 para Mecenato já esgotaram

Publicado em 13/05/2014 | 
Os recursos de incentivo fiscal da prefeitura para o Mecenato Subsidiado em 2014 já estão esgotados. Por meio de sua assessoria de imprensa, a Fundação Cultural de Curitiba (FCC) informou que 104 projetos captaram cerca de R$ 10,9 milhões.
Não há previsão de liberação de mais recursos. Os projetos aprovados só poderão captar em 2015. Os editais do Fundo Municipal da Cultura, no entanto continuam. De acordo com a FCC, haverá editais no meio do ano e no segundo semestre.
R$ 10,9 milhões em renúncia fiscal foram destinados ao Mecenato Subsidiado em 2014.
Críticas
O cineasta Paulo Biscaia Filho diz ter se surpreendido com o esgotamento dos recursos já em maio. Um dos proponentes aprovados pelo edital de 2012 – o último realizado pela FCC –, ele questionou a rapidez com que a captação aconteceu em 2014 e criticou a falta de um comunicado oficial quando o valor máximo estava próximo de ser atingido.
“Vários produtores e captadores profissionais encontraram uma dificuldade enorme de captação nesse semestre. Eu não sei quem são os sortudos que conseguiram captar tão velozmente”, diz Biscaia, lembrando que, como não há editais há dois anos, um número menor de projetos estaria em busca de captação.
Para o cineasta, o esgotamento dos recursos ainda no primeiro semestre cria um “apagão cultural” para o resto do ano. “Estamos desprovidos de mecanismos permanentes de apoio à cultura e à arte”, diz. “O Paraná é um dos poucos estados do Brasil que não tem uma lei estadual e o apoio via leis federais é insípido – as empresas são conservadoras quando se trata de Lei Rouanet. O único mecanismo permanente que temos é o Mecenato”, diz.
Para o diretor de teatro Marino Galvão Jr., o exaurimento antecipado dos recursos aconteceu porque o valor de renúncia fiscal em que o Mecenato se baseia não foi corrigido, embora o valor máximo dos projetos tenham sido aumentados. “O valor médio ficou mais alto. Como não houve um aumento significativo na dotação nos últimos quatro anos, a verba terminou mais cedo”, analisa.
Mudanças
O formato do Mecenato Subsidiado deve ser uma das principais pautas da Conferência Municipal Extraordinária de Cultura, que acontece de 29 de maio a 1.º de junho. O evento deve encaminhar a Lei do Sistema Municipal de Cultura para a Câmara Municipal. As vantagens e desvantagens de cada mecanismo – o Fundo Municipal, inteiramente distribuído pelo Estado, e o Mecenato Subsidiado, intermediado pelas empresas – estão entre as questões que dividem a classe artística.

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Jornal GAZETA DO POVO em 17/09/2013, no Caderno G.
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Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo
Ivonaldo Alexandre/ Gazeta do Povo / Prática de orquestra na Oficina de Música de 2013: para a organização, a função didática da próxima edição não será prejudicada com a reduçãoPrática de orquestra na Oficina de Música de 2013: para a organização, a função didática da próxima edição não será prejudicada com a redução
FORMAÇÃO

Calendário da Copa encurta Oficina de Música em 2014

Sem espaço físico para manter a duração tradicional e temendo diminuição no número de alunos, organização reduz a 32ª edição para duas semanas
Publicado em 17/09/2013 | 
A 32.ª edição da Oficina de Música de Curitiba será mais curta em 2014. Tradicionalmente realizadas ao longo de três semanas, as fases erudita e popular acontecerão entre os dias 6 e 19 de janeiro – uma semana a menos que o normal.
De acordo com Nilton Cordoni, presidente do Instituto Curitiba de Arte e Cultura (Icac), a organização teve de reduzir a duração do evento porque o calendário acadêmico da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), o principal espaço onde acontecerão os cursos, começa no dia 20 de janeiro para se adequar ao calendário da Copa do Mundo de 2014. Outras instituições de ensino que têm estrutura adequada teriam sido procuradas, mas apresentaram o mesmo problema.
R$ 2 milhões é o custo projetado pelo Icac para a 32ª Oficina de Música de Curitiba. Metade do valor está garantida pela prefeitura. O restante ainda está em fase de captação via Lei Rouanet.
Interatividade
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Com a antecipação do ano letivo, os organizadores concluíram que a disponibilidade dos estudantes para participar do evento também seria menor. “Não adiantaria ir além do dia 19 se os alunos que participam já estariam em calendário escolar”, explica Cordoni. “Se as demais [aulas] vão começar nesta data, perderíamos o aluno, que é o motivo principal da Oficina”, diz.
Impacto
Para atenuar a perda de dias de oficina, partes das duas etapas do evento serão realizadas simultaneamente. A fase erudita acontece de 6 a 14 de janeiro. A segunda etapa, de música popular, vai do dia 12 até o dia 19. Assim, as etapas contariam com nove e oito dias, respectivamente. Nos anos anteriores, foram dez dias para cada fase.
De acordo com Cordoni, os diretores artísticos da 32.ª edição – Janete Andrade (geral), Osvaldo Ferreira (erudita), Rodolfo Richter (antiga) e Glauco Sölter e Sérgio Albach (música popular brasileira e música latino americana) – concordaram que não haveria prejuízo didático com a redução. “Os curadores não tomariam essa decisão se houvesse prejuízo”, conta Cordoni, que diz não haver previsão de extinção de qualquer curso tradicionalmente disponibilizado pela Oficina. “O que teremos a menos serão alguns concertos, porque haverá dias em conjunto com a música erudita e a MPB”, explica.
Calendário
Um ano depois de ter sido ameaçada pela transição do governo municipal, a 32.ª edição da Oficina de Música de Curitiba está em situação similar à de anos anteriores, de acordo com o presidente do Icac. Metade dos custos do evento, projetados em R$ 2 milhões, está garantida pela prefeitura (o mesmo montante dos últimos três anos). O restante, do qual dependem as oficinas de Música Popular Brasileira, Música Antiga e Oficina das Crianças, será captado via Lei Rouanet e só será definido em novembro, mês em que os cursos são tradicionalmente divulgados. De acordo com nota oficial da Fundação Cultural de Curitiba (FCC), as inscrições para os cursos começam em outubro no site (oficinademusica.org.br).




Jornal GAZETA DO POVO em 01/outubro/2014, na coluna de Luiz Cláudio Oliveira.




Acordes locais

César Machado/Gazeta do Povo
César Machado/Gazeta do Povo  / Coral Brasileirinho, uma das formações do Conservatório de MPB que está em riscoCoral Brasileirinho, uma das formações do Conservatório de MPB que está em risco

As trapalhadas culturais de Curitiba

Publicado em 01/10/2014 | 
No domingo passado, aqui mesmo neste Caderno G da Gazeta do Povo, saiu uma notícia que preocupou a todos os que se interessam por cultura em Curitiba. A reportagem de Rafael Rodrigues Costa mostra que os grupos musicais ligados à Fundação Cultural de Curitiba, especialmente os do Conservatório de MPB, estão correndo perigo. Ícones musicais da cidade, como o Vocal Brasileirão, o Coral Brasileirinho, a Orquestra à Base de Corda e a Orquestra à Base de Sopro, além da Camerata Antiqua de Curitiba, estão sem contratos e sem recursos, embora o presidente da Fundação Cultural de Curitiba, Marcos Cordiolli assegure que os grupos não vão acabar.
Gestão após gestão, o Conservatório de MPB de Curitiba vai minguando. A cada ano uma crise diferente ou uma prolongação de uma mesma crise que nunca se resolve. Assim como aconteceu no ano passado, toda a programação da Oficina de Música de Curitiba também está atrasada e vive dias incertos.
O Conservatório já teve dias melhores e hoje se sustenta da dedicação de funcionários abnegados e mau pagos. Seus grupos musicais, apesar da excelência reconhecida internacionalmente, são tratados pelo administrador de plantão quase como um estorvo, uma coisa a mais para se preocupar, quando deveriam ser tratados como algo para a cidade se orgulhar.
Cordiolli diz que a Prefeitura de Curitiba passa por uma “crise fiscal” e que por isso os recursos não estão entrando (será que o povo não está pagando o IPTU em dia?) e isso dificulta a manutenção dos projetos da “Fucucu”.
Usando uma linguagem que parece a de político em véspera de eleição quando confrontado com uma pergunta difícil, Cordiollli afirmou o seguinte ao repórter Rafael Costa: “Mas não vamos em hipótese alguma fechar os grupos. O que talvez tenha de acontecer é um processo de reestruturação em sua forma de relacionamento. Mas vamos fazer isso de maneira dialogada. Mesmo que tenhamos de tomar medidas duras, não está previsto desligamento de pessoas”.
O que seria uma “reestruturação em sua forma de relacionamento”, ficou um tanto vago. Seria uma “privatização”, em que os grupos não teriam mais ligação com a Fundação Cultural? Uma espécie de autogestão, em que eles teriam de se virar para conseguir os próprios recursos? É tão estranho ouvir isso de uma administração ligada ao PT, não é?
Lembremos que a Oficina de Música de Curitiba já esteve ameaçada e foi encolhida em tamanho e dias de funcionamento em janeiro deste ano. Na época, ainda fresco na presidência da Fundação, Cordiolli disse que a troca de prefeitos atrapalhou a arrecadação de recursos e fez grandes promessas ao mesmo repórter Rafael Rodrigues Costa.
Nos próximos três parágrafos, vou reproduzir um trecho daquela reportagem, em que Cordiolli faz um balanço de encerramento da Oficina de 2014 e acrescenta algumas promessas, que não foram cumpridas. Acho que não preciso nem comentar o que ele prometeu. Cada um que julgue por si mesmo. Então lá vai:
“Em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo, o presidente da FCC, Marcos Cordiolli, atribuiu a perda de patrocínio da Oficina justamente à instabilidade evidenciada no ano passado, e disse que a edição de 2014 teve o papel de recuperar essa credibilidade. Ele espera que a Oficina de 2015 tenha um conjunto de recursos superior, e disse que a divulgação dos cursos ‘seguramente sai no primeiro semestre’ deste ano. “Teremos um desenho básico em maio que será tornado público em junho. Isso daria uma antecipação muito grande também para fazermos ações que tragam público de Curitiba para a Oficina. Ela é um presente para o Brasil e para a América Latina, mas precisa deixar um legado para a cidade”, diz Cordiolli.
“O presidente da FCC também prevê já para este ano o agendamento de quatro anos proposto para a Oficina.
“Cordiolli adianta que um dos focos da Oficina será seu núcleo de música antiga, que quer elevar ao status de referência no Cone Sul. Outras mudanças específicas nos rumos artísticos do evento, no entanto, estariam totalmente em aberto.”