FAZENDO ÓPERA - SIDÉRIA, de Augusto Stresser

Nos dias 10 a 13 de abril de 2014, no Teatro Barracão EnCena, foi apresentada a ÓPERA SIDÉRIA, composição de Augusto Stresser e libreto de Jayme Ballão, na versão de 1909, espetáculo produzido com recursos do Mecenato Subsidiado da Fundação Cultural de Curitiba, sendo proponente a  Associação Coral Sinfônico de Curitiba - ACSP.

Foi um projeto difícil, que entre aprovação, captação, produção e apresentação, levou quase três anos! Mas era um desafio pessoal: passo a passo, encontrando ajuda a cada momento, consegui levar o projeto até o final apesar de todas as restrições financeiras e de toda a burocracia inerente.

Mas, primeiro, vamos à história de SIDÉRIA, contada aqui com nossos agradecimentos a PAULO JOSÉ DA COSTA, que fez uma maravilhosa documentação fotográfica da récita do dia 11 de abril/2014. Escolh algumas das mais de 80 fotos que podem ser acessados em seu álbum SIDERIA - ALBUM DE FOTOS - 12.4.2014


SIDÉRIA é uma ópera no estilo "tragédia", que conta um (aliás... dois!) triângulo amoroso nos tempos do CERCO DA LAPA, um confronto entre as tropas federalistas e republicanas ocorrido em 1894 na cidade da Lapa/PR, que durou cerca de um mês e matou mais de quinhentas pessoas. A ópera estreiou no antigo Theatro Guayra em 1912, com retumbante sucesso.


O BLOG

O projeto da ÓPERA SIDÉRIA incluiu a produção de um "blog", reunindo diversas informações que contextualizassem a importância desta ópera para a cidade de Curitiba.

O blog ÓPERA BRASILEIRA: SIDÉRIA, DE AUGUSTO STRESSER começou em final de setembro de 2013, primeiro destacando posts de pesquisa de época, tanto relativos à apresentação de estreia em 1912, como retratando a Curitiba antiga onde viveu o compositor. 

Foram temas de pesquisa, a gripe espanhola de 1918 onde faleceu Augusto Stresser, a moda entre 1909 e 1912, os primórdios da iluminação elétrica pública e de seu impacto social, e o impulso na vida cultural da cidade quando o Maestro Kessler decide permanecer em Curitiba, usufruindo do sucesso da obra.

A segunda metade do blog registrou e divulgou o espetáculo em montagem, desde os primeiros ensaios, até a apresentação.

TELAS CENOGRÁFICAS



Nesta montagem, a cenografia era um problema, porque mesmo com as restrições orçamentárias fazíamos questão de que também na cenografia houvesse referências histórias da concepção original do concerto, como na sua estréia em 1912. Isso significava pintar telas cenográficas, improvisando um estúdio onde tivesse espaço para estender um trabalho maior.



Isto porque, no final do século XIX, a ópera era o grande espetáculo que reunia as quatro maiores expressões artísticas da época: a literatura (pelo libreto), a dramaturgia, a música (no canto, e na orquestração), e as artes plásticas (no cenário). 

Quando Augusto Stresser estreiou a ÓPERA SIDÉRIA, em 1912, ainda vigorava uma estética cênica onde o ponto central era uma imensa tela cenográfica no fundo do teatro, à frente da qual os cantores declamavam e cantavam suas árias, como ficou registrado nas fotografias da época. 

Para a obra levada aos palcos do Teatro Guayra em 1912, foram Guilherme Lobe e Richard Wagner os artistas plásticos responsáveis pelas três grandes telas que iluminam o fundo de palco, uma para cada ato, pintadas com modelos locais.

ÓPERA SIDÉRIA 1912 - tela cenográfica de Guilherme Lobbe, TERCEIRO ATO
Pensava-se, então, na estrutura cênica do palco, dentro dos princípios estéticos do barroco, fortemente influenciados por Galli Bibiena, um dos cenógrafos mais influentes desde o século XVIII, além de desenhista/arquiteto de teatros na França, Itália, Áustria e Hungria.

Bibiena e seus contemporâneos firmaram a tendência ao gigantismo e ao esplendor dos teatros, alterando a escala dos cenários:

(...) usando a perspectiva em ângulo. Em vez de ter um ponto de fuga no centro do cenário, utilizou dois ou mais ângulos nos lados do cenário. Alterou a escala dos cenários, separando-os do auditório, tanto em ângulo como em escala. Considerou o palco pequeno para os edifícios de seu cenário, fazendo seu desenho ultrapassar verticalmente os limites da boca de cena.“ (NERO, Cyro del. Máquina para os Deuses, Anotações de um Cenógrafo e o discurso da Cenografia. Editora SENAC, Edições SESCPS, 2009, pg 211.)


Em outras palavras, a ÓPERA SIDÉRIA precede a grande revolução da cenografia, que ocorria na Europa nesse início de século XX, e que veio através das reflexões de Adopho Appia (1862/1928) que, tentando compreender a sensação de falsidade que percebe ao assistir às primeiras encenações da obra de Wagner, reflete que o corpo humano, tridimensional, :


(...) jamais poderá se relacionar, em cena, com um objeto bidimensional, como são os telões. O próprio ator terá dificuldade em interpretar com um painel que não preenche, por exemplo, os contornos de seu corpo. Como sentar numa cadeira pintada na parede? Como permitir que os fluxos energéticos do corpo humano circulem, como quando sentado numa cadeira? Como exprimir uma verdade que ele, o ator, não está sentindo? A interpretação passaria a ser falsa nessa disposição espacial. “ (VIANNA, Fausto. Figurino Teatral e as renovações do Século XX. Estação das Letras e Cores Editora E FAPESP, 2010, São Paulo/SP, pg 17/18.)


Assim, não poderia faltar uma tela cênica nesta montagem da ÓPERA SIDÉRIA. Tampouco poderia ser outro motivo, que não nossos pinheiros, tão marcantes na paisagem curitibana, tema da mais elogiada tela de fundo da concepção original. Em fase final, lá estão... pinheiros... pinheiros... e mais pinheiros!


  





Em homenagem a GUILHERME LOBE e RICARDO WAGNER, que pintaram os cenários da montagem original de 1912, fiz o cenário com quatro telas de 3,5x1.6 mts em acrílica, que foram montados sobre quatro pernas de coxias de 3.0x1.10 mts, formando uma paisagem com pinheiros, a árvore símbolo do Paraná.






A TRÁGICA HISTÓRIA DE SIDÉRIA


A ópera conta a história de SIDÉRIA, uma menina de quinze anos que é filha de PAULO, dono de uma pequena propriedade rural. Por ela, está apaixonado JUVENAL, um homem maduro e autoritário, influente no local.


Início da ópera: PAULO (Cláudio de Biaggi) recebe os lavradores que saem para o trabalho. Foto de Paulo José da Costa.

É o dia do aniversário de SIDÉRIA, que completa quinze anos (com Josianne dal Pozzo como Sidéria). Foto de Paulo José da Costa.

Os camponeses festejam o aniversário de Sidéria, fazendo-lhe uma surpresa. (Com Josiane Dall Pozzo e Coral Sinfônico do Paraná em coro de câmera). Foto de Paulo José da Costa

Sidéria fica comovida com a homenagem dos camponeses. Foto de Paulo José da Costa.


Chega JUVENAL (Cristhyan Segala), um homem poderoso e apaixonado por Sidéria. Foto de Paulo José da Costa.

JUVENAL (Cristhyan Segala) tenta conquistar o amor da casta SIDÉRIA (Josianne Dall Pozzo). Foto de Paulo José da Costa.

Porém, o jovem ALCEU deserda do Cerco da Lapa, onde a guerra atingiu o ápice da crueldade. Na época, a deserção em batalha poderia significar a pena por enforcamento. Porém, ALCEU consegue ajuda de PAULO, que consente que o rapaz se esconda dentro de sua propriedade.

ALCEU é noivo de outra jovem, THYLDE, a quem declara amor e sente saudade, nas primeiras canções da ópera. Porém, ao conhecer SIDÉRIA, a filha de seu protetor, apaixona-se por ela e é correspondido. Sidéria confidencia a uma camponesa amiga, as dores da descoberta de seu amor incipiente. Porém, JUVENAL percebe o encanto de sua amada por outro homem, e decide delatar ALCEU às autoridades que procuravam o fugitivo e, assim, afastar o rival.


PAULO (Cláudio de Biaggi) acolhe ALCEU (Sidney Gomes), que desertou do Cerco da Lapa e agora precisa se esconder. Foto de Paulo José da Costa.

Delatado por Juvenal, ALCEU (Sidney Gomes) é preso como desertor. O crime comporta pena por enforcamento. Foto de Paulo José da Costa.


No início do segundo ato, ALCEU está preso por deserção, e exposto às chacotas da população local. Para ele, é uma situação desesperadora, passível da condenação à morte. Mas para JUVENAL, é a oportunidade de conquistar sua amada SIDÉRIA, e comemorando o que considera uma vitória, finalmente declara aos amigos sua decisão de conquistar a mulher de seu coração.



O povo faz chacota do desertor que foi preso (com Sidney Gomes/ALCEU e coro). Foto de Paulo José da Costa.

JUVENAL (Cristhyan Segala) vangloria-se por ter conseguido afastar o rival ALCEU (Sidney Gomes). Foto de Paulo José da Costa.

JUVENAL (Cristhyan Segala) comemora sua vitória sobre o rival ALCEU (Sidney Gomes), chamando seus amigos para beber (coro masculino). Foto de Paulo José da Costa.

JUVENAL (Cristhyan Segala) confessa aos amigos (coro masculino), seu amor por Sidéria. Foto de Paulo José da Costa.

Vinda de muito longe, chega THYLDE à procura de seu noivo, e encontra SIDÉRIA e sua amiga entristecidas pela prisão de Alceu. Mas JUVENAL vê na chegada da noiva até então desconhecida, a oportunidade de afastar definitivamente seu rival sem o preço do sangue nas mãos.

Assim, Juvenal entrega à Thylde o documento que permite a soltura do noivo. Alceu é libertado, mas em dúvida sobre a direção de seu amor, acaba ficando ao lado da mulher com quem já estava comprometido, causando uma grande decepção à SIDÉRIA, que descobre que o homem por quem estava apaixonada, já era noivo de outra mulher.


THYLDE (Julcinara A. Rodrigues), a noiva de ALCEU, chega de "muito longe" à procura do amado. Foto de Paulo José da Costa.

THYLDE (Julcinara A. Rodrigues) encontra SIDÉRIA (Josianne Dal Pozzo) e uma camponesa amiga (Renata Gorosito, ao fundo), que lamentam a prisão de Alceu. Foto de Paulo José da Costa.

THYLDE (Julcinara A. Rodrigues) e SIDÉRIA (Josianne Dall Pozzo) cantam as dores do amor, sem saber que são ambas apaixonadas pelo mesmo homem. Foto de Paulo José da Costa.

THYLDE (Julcinara A. Rodrigues) consegue a liberdade do noivo ALCEU (Sidney Gomes), enquanto que SIDÉRIA (Josianne Dall Pozzo) decepciona-se ao descobrir que o amado é noivo de outra mulher. Foto de Paulo José da Costa.

THYLDE (Julcinara A. Rodrigues) e ALCEU (Sidney Gomes) estão juntos novamente.

Porém, nem mesmo a decepção com Alceu faz SIDÉRIA apaixonar-se por JUVENAL. Ao constatar que toda a armação havia sido em vão, o homem se desespera e exige o amor de que tanto necessita. A recusa de Sidéria o transtorna, e em ato impulsivo, JUVENAL assassina SIDÉRIA com o punhal que traz na cinta. Mas em seguida, confrontado com o ato tresloucado e o olhar acusatório dos camponeses, ele segue a amada na morte, suicidando-se.


JUVENAL (Cristhyan Segala) entende que SIDÉRIA (Josianne Dall Pozzo) não corresponde seu amor. Desesperado, ele a mata com um punhal, e depois, confrontando-se com os camponeses (coro), suicida-se ao lado da amada. Foto de Paulo José da Costa.

Agradecimentos - foto de Paulo José da Costa.


PARTICIPARAM DA OBRA:

MAESTRO .................................................. EMANUEL MARTINEZ
DIRETOR DE CENA .................................. FERNANDO KLUG

PIANISTA CORREPETIDOR ...................... JEFFERSON DE MELLO
PIANISTA CORREPETIDOR ...................... GISELE REGINA MALLON
PREPARAÇÃO VOCAL CORO .................. RENATA GOROSITO

SIDÉRIA ........................................................JOSIANNE DAL POZZO
ALCEU .......................................................... SIDINEI GOMES PEREIRA
JUVENAL ..................................................... CRISTHYAN SEGALA
PAULO .......................................................... CLÁUDIO ALBERTI DE BIAGGI
THYLDE .........................................................JULCINARA AZARIAS RODRIGUES

CAMPONESA ................................................ RENATA GOROSITO
CAMPONESES .............................................. RODOLPHO LUIZ REIS VIEIRA
                            ............................................. JONES DE SOUZA FILHO

CORAL SINFÔNICO DO PARANÁ (Coro Novaphilarmonia, em grupo de câmera)

SOPRANOS ................................................... RENILDES ÂNGELO CHIQUITO
                      ................................................... RENATA GOROSITO
MEZZOS ......................................................... MELODY LYNN FALCO RABY
                 ........................................................ GISLAINE DOBROCHINSKI
CONTRALTOS ............................................... ELAINE NOVAES FALCO
                          ................................................ EDILANGE XAVIER ALVES DOS SANTOS
                          ................................................ CÉLIA RIBEIRO
TENORES ......................................................... AILSON MARTINS
                  .......................................................... ELI CORDEIRO
                  .......................................................... ANDREY LUCIANO
BAIXOS ............................................................ JONES DE SOUZA FILHO
                ............................................................ RODOLPHO LUIZ REIS VIEIRA
                ............................................................ JOÃO CARLOS MORENO


DESIGN GRÁFICO ........................................... ATAUÃ DOERDERLEIN
TELAS CENOGRAFICAS ................................. ELAINE NOVAES FALCO
ASSISTENTE DE PRODUÇÃO ......................... PATRÍCIA KLINGELFUS PÖLZ
ORGANIZAÇÃO ................................................ ELAINE NOVAES FALCO
ILUMINAÇÃO .................................................... JUSCELINO ZILIO
MAQUIADORAS ................................................ ANA JÚLIA STADLER HASS IGNATOWICZ
                               ............................................... DÉBORA BÉRGAMO
ASSISTENTES DE PALCO ................................. HEITOR SCHUMANN
                                              ................................. DOUGLAS PEREZ
ASSISTENTE DE ACESSO ................................. JÚLIA CHIQUITO





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